sexta-feira, 18 de março de 2016

Novos bairros

 Novos Bairros

     São Paulo desenvolveu-se com rapidez extraordinária, mais que as cidades existentes no Brasil. Enquanto estava enclausurada na colina central, não co­nhecia as diferenças funcionais de um ponto a outro da cidade, a não ser as chácaras periféricas.
     As moradias concentravam-se no próprio triângulo, ao lado de casas de comerciais e as pe­quenas oficinas. A partir da década de 1880-90, iniciou-se a diversificação de funções e o aparecimento, ao lado do velho centro, de bairros operários e residenciais finos.
     Os primeiros bair­ros operários localizaram-se nas terras baixas vizinhas ao Tamanduateí, nas proximidades das estações ferroviárias e ao longo das ferro­vias. 
     No tempo do censo do Marechal Müller, tantas vezes citado (1836), o Brás era um aglomerado de aproximadamente 700 pessoas, vivendo em torno da capela do Senhor Bom Jesus, no caminho para o Rio de Janeiro. Em 1872 com 2.300 moradores.
     Com a inauguração da estrada de ferro, o seu crescimento passa a ser constante.  
     Lotearam-se as Chácaras do Ferrão e da Figueira. O recenseamento de 1886 aponta 6.000 habi­tantes.   O Brás tornar-se com o tempo o distrito mais populoso da Capital Paulista.
     Os bairro considerados “finos” surgiram para além do Anhangabaú, no rumo geral de Oeste, onde foram abertas largas ruas e construíram-se ele­gantes palacetes, sobretudo nos  Campos Elíseos, preferido pela aristocracia cafeeira.
     Com o arruamento finalizado entre 1880-90, ali se instalaram ricos fazendeiros, construindo belíssimas e luxuosas mansões, no meio de grandes jardins luxuriantes.
     Desse passado imponente muito pouco foi preservado, e os que resistiram ao tempo não  testemunham a grandeza passada.
     Somente nos primeiros anos do século passado foi que esse bairro perdeu sua privilegiada posição, deixando de ser o mais elegante da cidade. Substituiu-o o bairro de Higienópolis, instalado em continuação à Vila Buarque e a Santa Cecília, e carac­terizado por suas luxuosas construções de tipo francês ou inglês, cen­tro da aristocracia paulistana até 1930.
     Outros bairros residenciais também apareceram nesse fim de século, seguindo quase sempre as vias de comunicação que colocavam São Paulo em contacto com o litoral e o interior.   
      Em direção de Pinheiros: o bairro da Consolação. No rumo do Sul, na direção de Santo Amaro: a Liberdade e a Vila Mariana e, no caminho do Ipiranga, Cambuci e Vila Deodoro.
     A década de 1870-80 assinalou as transformações que acabaram com o aspecto colonial, que manteve durante mais de trezentos anos. Já foi referido que esse pe­ríodo, que coincide em parte com a presidência João Teodoro, como a "segunda fundação de São Paulo", para lembrar a expres­são de um dos estudiosos de sua história. "Só em 1870, observa Eugênio Egas começou a Capital a progredir de modo apreciável. Instalam-se fábricas, fazem-se prédios bons, abrem-se novas ruas, melhoram-se edifícios públicos, em geral os logradouros da Cidade são cuidados; criam-se novos pontos de repouso e embelezamento.
    A “ febre” de progresso rápido, constante e seguro apodera-se dos paulis­tas. Eles querem que a sua capital seja uma cidade procurada por todos, nacionais e estrangeiros, que se torne um centro, um grande empório de comércio, indústria e arte". 01
01 – EGAS, EUGÊNIO, Os municípios paulistas. I, pág. 469. São Paulo, 1923.






     Com o presidente João Teodoro, segundo Paulo Cursino de Moura, "o primeiro que realmente se interessou pelos problemas de urbanismo" 02, ocorreu a iniciativa e a realização de melhoramentos públicos, que deram à cidade uma feição mais moderna e de acordo com os grandes progres­sos que se registravam na Província. Teve início as obras de saneamento da várzea de Carmo (anualmente inundadas pelas águas do Tamanduateí), foram abertas novas ruas, para a ligação entre os bairros. Ruas foram alinhadas, arborizadas e calça­das iluminadas.   
     Em 1872 a cidade conta com um serviço de bondes a tração animal. A primeira linha a liga o centro e a Estação da Luz. Em 1877 inau­gura-se a linha do Brás. Novas linhas foram criadas, unin­do o centro à: Moóca, Campos Elíseos, Santa Cecília, Consola­cão e Liberdade. A deste bairro fazia ponto final na rua S. Joaquim, onde se localizava a estação da linha férrea que, a partir de 1883, pôs a cidade em comunicação com Santo Amaro.
     Aos poucos, novas obras, pontes, aterros, serviço de águas e esgotos, iluminação a gás e depois elétrica, o Viaduto do Chá — contribuíram para tornar São Paulo uma cidade moderna.
     O Via­duto do Chá, planejado desde 1879, foi inaugurado em 1892, construído sobre o vale do Anhangabaú, foi o feito mais importante para a época. Realização de Jules Martin, sua estru­tura metálica veio da Alemanha, e durante mais de quarenta anos (o atual viaduto foi construído em 1936) foi testemunha muda do pro­gresso de São Paulo.


02 - MOURA, PAULO CURSINO DE, São Paulo de outrora, pág. 236. Ed. Melhora­mentos, São Paulo 1932.

UALE, op. cit., pág. 141.

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