Novos
Bairros
São Paulo desenvolveu-se com rapidez
extraordinária, mais que as cidades existentes no Brasil. Enquanto estava
enclausurada na colina central, não conhecia as diferenças funcionais de um
ponto a outro da cidade, a não ser as chácaras periféricas.
As moradias concentravam-se no próprio
triângulo, ao lado de casas de comerciais e as pequenas oficinas. A partir da
década de 1880-90, iniciou-se a diversificação de funções e o aparecimento, ao
lado do velho centro, de bairros operários e residenciais finos.
Os primeiros bairros operários
localizaram-se nas terras baixas vizinhas ao Tamanduateí, nas proximidades das
estações ferroviárias e ao longo das ferrovias.
No tempo do
censo do Marechal Müller, tantas vezes citado (1836), o Brás era um aglomerado
de aproximadamente 700 pessoas, vivendo em torno da capela do Senhor Bom Jesus,
no caminho para o Rio de Janeiro. Em 1872 com 2.300 moradores.
Com
a inauguração da estrada de ferro, o seu crescimento passa a ser constante.
Lotearam-se as Chácaras do Ferrão e da
Figueira. O recenseamento de 1886 aponta 6.000 habitantes. O Brás
tornar-se com o tempo o distrito mais populoso da Capital Paulista.
Os bairro
considerados “finos” surgiram para além do Anhangabaú, no rumo geral de Oeste,
onde foram abertas largas ruas e construíram-se elegantes palacetes, sobretudo
nos Campos Elíseos, preferido pela aristocracia cafeeira.
Com o arruamento finalizado entre 1880-90,
ali se instalaram ricos fazendeiros, construindo belíssimas e luxuosas mansões,
no meio de grandes jardins luxuriantes.
Desse passado imponente muito pouco foi
preservado, e os que resistiram ao tempo não
testemunham a grandeza passada.
Somente nos primeiros anos do século passado
foi que esse bairro perdeu sua privilegiada posição, deixando de ser o mais
elegante da cidade. Substituiu-o o bairro de Higienópolis, instalado em continuação à Vila
Buarque e a Santa Cecília, e caracterizado por suas luxuosas construções de
tipo francês ou inglês, centro da aristocracia paulistana até 1930.
Outros
bairros residenciais também apareceram nesse fim de século, seguindo quase
sempre as vias de comunicação que colocavam São Paulo em contacto com o
litoral e o interior.
Em direção de Pinheiros: o bairro da
Consolação. No rumo do Sul, na direção de Santo Amaro: a Liberdade e a Vila
Mariana e, no caminho do Ipiranga,
Cambuci e Vila Deodoro.
A década de
1870-80 assinalou as transformações que acabaram com o aspecto colonial, que
manteve durante mais de trezentos anos. Já foi referido que esse período, que
coincide em parte com a presidência João Teodoro, como a "segunda fundação
de São Paulo", para lembrar a expressão de um dos estudiosos de sua
história. "Só em 1870, observa Eugênio Egas começou a Capital a progredir
de modo apreciável. Instalam-se fábricas, fazem-se prédios bons, abrem-se novas
ruas, melhoram-se edifícios públicos, em geral os logradouros da Cidade são
cuidados; criam-se novos pontos de repouso e embelezamento.
A “ febre” de progresso rápido, constante e
seguro apodera-se dos paulistas. Eles querem que a sua capital seja uma cidade
procurada por todos, nacionais e estrangeiros, que se torne um centro, um
grande empório de comércio, indústria e arte". 01
01 – EGAS, EUGÊNIO, Os municípios paulistas. I, pág. 469. São Paulo, 1923.
Com o
presidente João
Teodoro, segundo Paulo Cursino de Moura, "o primeiro que realmente se
interessou pelos problemas de urbanismo" 02, ocorreu a iniciativa e a realização de melhoramentos públicos,
que deram à cidade uma feição mais moderna e de acordo com os grandes progressos
que se registravam na Província. Teve início as obras de saneamento da várzea
de Carmo (anualmente inundadas pelas águas do Tamanduateí), foram abertas novas
ruas, para a ligação entre os bairros. Ruas foram alinhadas, arborizadas e calçadas
iluminadas.
Em 1872 a cidade conta com um serviço de
bondes a tração animal. A primeira linha a liga o centro e a Estação da Luz. Em
1877 inaugura-se a linha do Brás. Novas linhas foram criadas, unindo o centro
à: Moóca, Campos Elíseos, Santa Cecília, Consolacão e Liberdade. A deste
bairro fazia ponto final na rua S. Joaquim, onde se localizava a estação da
linha férrea que, a partir de 1883, pôs a cidade em comunicação com Santo
Amaro.
Aos poucos,
novas obras,
pontes, aterros, serviço de águas e esgotos, iluminação a gás e depois
elétrica, o Viaduto do Chá — contribuíram para tornar São Paulo uma cidade
moderna.
O Viaduto do Chá, planejado desde 1879, foi
inaugurado em 1892, construído sobre o vale do Anhangabaú, foi o feito mais
importante para a época. Realização de Jules Martin, sua estrutura metálica
veio da Alemanha, e durante mais de quarenta anos (o atual viaduto foi
construído em 1936) foi testemunha muda do progresso de São Paulo.
02 - MOURA, PAULO CURSINO DE, São Paulo de
outrora, pág. 236. Ed. Melhoramentos, São Paulo 1932.
UALE, op. cit., pág. 141.